domingo, 2 de setembro de 2007

L Sentimiento dun Oucidental. III – Al Gaç


Salo. La nuite pesa, smaga. An los
Passeios alajados arrástran-se ampuras.
Á dóndios spitales! Nas ambocaduras
Un airico arrepela ls
ombros quaije znudos.


Círcan-me ls sotos,
inda mornos. Cuido
Ber círios lhaterales, capielhas an fila,
Cun
santos an andores, i giente que çfila,
Por ua catedral tan lharga cumo l mundo.


Las burguesicas de l Catolecismo
Arrebálan pul suolo furado puls canhos;
I lhémbran-me, al
chorar doliente de ls pianos,
Las
freiras que ls aiunos mátan de sterismo.


Nua frauga, cun sou
mandil, al torno,
Bate un
ferreiro un malho, a rugir fortemente;
Dua panaderie scapa-se, inda caliente,
Un oulor
mesmo sano i hounesto a pan ne l forno.


You
que matino un lhibro que m’einerbe,
Quejira
que l rial i l’analze me l díran;
Las
casas de faziendas las moda atíran;
Pulas
vitrines mira un lhadronico amberbe.


Lhargas costielhas! Nun
poder pintar
Cun bersos
magistrales, ciertos, berdadeiros,
L
mui fino spargir de ls buossos fuortes cheiros,
La buossa palhideç romántica i lhunar!


Que queluobra, l’eicitante pessona,
Que spartilhada scuolhe uns xales cun debuxo!
Sue eicelénça atrai,
magnética, antre luxo,
Que an balcones de mogno al lhargo s’amuntona.


I aqueilha bielha,
que peinado! Hai bezes,
La sue traine a eimitar un
abano antigo, abierto,
Nas
barras berticales, a dues tintas. Cierto,
Scárban, a la bitória, sous
gatos siameses.


Zdróban-se las faziendas de ls strangeiros;
Arbles d’anfeitar sécan ne ls amostradores;
Puolos d’arroç pul aire stan sefocadores,
I an nubres de setins menéian-se ls queixeiros.


Mas todo cansa! Apágan-se an las frentes
Ls lhampiones, cumo streilhas
pouco a pouco;
El solico apregona un couteleiro
rouco;
Buolben-se an
mausoléus armaçones lhuzientes.


Pena de la miséria! ... Tenei duolo!...”
I, pulas squinas, calbo, eiterno, peneroso,
Pide-me siempre smola un home yá eidoso,
Miu porsor de lhatin, siempre d'uolhos ne l suolo!


Cesário
Verde, O Sentimento de um Ocidental
Traduçon de Fracisco Niebro


[An pertués:
O
Sentimento de um Ocidental. III – Ao Gaz


E saio. A
noite pesa, esmaga. Nos
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó
moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arrepia os ombros quase nus.


Cercam-me as
lojas, tépidas. Eu penso
Ver círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em uma catedral de um comprimento imenso.


As burguesinhas do
Catolicismo
Resvalam
pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao
chorar doente dos pianos,
As
freiras que os jejuns matavam de histerismo.


Num cutileiro, de
avental, ao torno,
Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma
padaria exala-se, inda quente,
Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.


E
eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera
que o real e a análise mo dessem;
Casas de confecções e modas resplandecem;
Pelas
vitrines olha un ratoneiro imberbe.


Longas
descidas! Não poder pintar
Com versos magistrais, salubres e sinceros,
A
esguia difusão dos vossos reverberos,
E a
vossa palidez romântica e lunar!


Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.


E aquela
velha, de bandós! Por vezes,
A
sua traine imita um leque antigo, aberto,
Nas
barras verticais, a duas tintas. Perto,
Escarvam, à
vitória, os seus meklemburgueses.


Desdobram-se
tecidos estrangeiros;
Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós de arroz pairam sufocadores,
E
em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.


Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os
candelabros, como estrelas pouco a pouco;
Da
solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se
mausoléus as armações fulgentes.


da miséria! ... Compaixão de mim! ...”
E, nas
esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me
sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu
velho professor nas aulas de latim!]

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Dr. Amadeu,

Para quando mais um livro com textos/poemas da sua autoria? :-)

Ou até mesmo (se já o justificar) uma compilação deste e/ou de outros blogs fantásticos em mirandês.

É uma ideia, para termos mais obras em mirandês. Quantas mais melhor!

Já agora, este é o meu blogue:
Caro Dr. Amadeu,

Para quando mais um livro com textos/poemas da sua autoria? :-)

Um abraço!

Amadeu disse...

Meu Caro Nuno Cruz,

Há tanto tempo que não tinha notícias suas...
Já fui até ao seu blog. Acho que são úteis iniciativas como a sua, para discussão e divulgação. Continuarei a acompanhá-lo com todo o interesse.


Creio que é um erro dar tanta importância à forma de escrita. O tempo ajuda-nos a perceber que podemos perder demasiado tempo atrás de um assento, uma vogal ou uma consoante. Não que não seja importante, mas há coisas mais importantes, e que aquelas não devem submergir. Por isso, nada tenho contra as suas ideias a propósito da escrita, pois creio que o debate sobre essas matérias deve existir sempre.
Mas um coisa é o debate, outra é a prática da escrita séria, numa língua, neste caso a mirandesa. E aí não vejo razões suficientemente válidas para não se respeitar a Convenção e as suas Adendas, enquanto estiverem em vigor. Não o fazer é um sintoma ainda infantil que o tempo ajudará a perceber que não ajuda a língua, nomeadamente quando somos tão poucos e frágeis. Mas, claro, apesar de pensar assim, tenho todo o respeito por quem pensa e age doutro modo.

Quanto a novas inciativas editoriais minhas, talvez lá mais para o fim do ano haja notícias. Material para editar não me falta, mesmo sem ter em conta o que vou publicando em blogs e jornais vários. Gostaria de ver em livro uma série de novos autores mirandeses de grande qualidade que têm aparecido a escrever nos últimos anos. Talvez em 2008 haja muitas novidades a esse respeito. Como saberá, não é fácil editar.

Continue com o seu trabalho e obrigado por todo o seu interesse e simpatia pela língua e cultura mirandesas.

Um abraço,
Amadeu